A SportZone lançou há meses uma campanha cujo mote é o facto de num determinado momento, num determinado jogo, vais ter um momento de génio que te vai sentir ao nível dos melhores do mundo, nem que seja uma vez na vida. Soa a exagero? Eventualmente a grande parte sim, é um exagero, mas quem joga ou jogou futebol, em qualquer nível (de jogos entre amigos a campeonatos profissionais), faz sentido.
Ainda hoje tenho memória de uns momentos em que tudo me saiu bem. Não é uma leve lembrança mas sim uma imagem completa e em pormenor de todos momentos. A mais antiga que tenho é fácil de enquadrar no tempo, estava no 1º dia de aulas no 7º ano, 1º dia numa escola nova, muito tempo livre, jogo da bola nos campos de alcatrão durante horas e horas (isto é algo que falta aos miúdos de hoje em dia, mas isto é outra conversa) e do meio desse jogo resolvo rematar em bicicleta (volto a dizer, o piso era alcatrão) e a bola....foi à figura do guarda redes. Mas os restantes miúdos ficaram eufóricos e a partir daí passaram-me a chamar de Negrete (trabalho de casa para os leitores, México 86, Selecção do México, melhor golo da competição). Interessante a forma como a memória funciona, guarda aquele pequeno momento em todo o pormenor e ofusca o 'acessório'.
Esta introdução vai de encontro a um pedaço importante da história do futebol (não, não sou eu) onde os 2 conceitos que tentei introduzir (Momento e Memória) são essenciais. Esta história foi a afirmação, aos 19 anos, dum dos jogadores mais brilhantes de sempre do futebol britânico, George Best. Calhou ser num palco português, o Estádio da Luz.
Em 1966 o Manchester United jogava os quatros de final contra um Benfica já consagrado, venceram 3-2 em Old Trafford, resultado perigoso. Bastava 1-0 em casa pelo Benfica e perdiam. O treinador do United preparou uma táctica cautelosa mas um dos que entrou em campo só ouviu 'blá-blá-blá' e mal começou o jogo atacou-se ao jogo de tal forma que ao intevalo ganhavam 3-0. 2 golos foram marcados por George Best, o que nada ouviu antes do jogo. E assim nasceu a lenda. O jogo acabou 5-1 para o United.
A melhor forma de reforçar o modo como a memória funciona nestes momentos vieram pelas palavras do próprio Best:
"On nights like that, good players become great players and great
players become gods... It was surreal stuff. I've seen other great teams
play like that but to be a part of such an experience was unreal.
Strangely, although I can replay almost the whole 90 minutes of that
match in my head, I can't remember a single thing after the final
whistle."
E o momento foi o 2º golo de Best onde tudo foi feito em velocidade, no entanto na memória do próprio Best tudo foi mais lento, com tempo de sobra para escolher a melhor decisão. Não querendo tomar, de maneira nenhuma, por-me ao mesmo nível, mas também é algo que sinto ao relembrar as minhas 2 melhores jogadas no futebol de 11, o tempo e a calma que tive na decisão, no driblar os adversários, na escolha do passe ou tipo de remate. O tempo de decisão realmente é decisivo e é, na minha opinião, o que diferencia os bons jogadores dos grandes jogadores.
Como prenda deixo o resumo com os golos do Benfica 1 - United 5.